LABIRINTO – Parte 2 de 5

Lázaro desperta de seus sonhos como um dia qualquer. Olha no espelho sua face turva, amassada, ainda se estabelecendo das horas de sono suadas. Tira a sujeira do corpo impregnada, seca-se ao vento, sob o piso molhado. Realiza suas ações diárias normalmente, porém, com um gosto estranho no inconsciente. Mais uma vez a rotina serviu-se dele no café da manhã, e depois de devorá-lo, regurgitou-o através da porta. Executou uma hora de seu dia sob a inércia e procurou saber se houve outros dias que tenham passado com a mesma prosternação. Com a sensação de não ter vivido, volta para indiferença da situação.

Os minutos transcorrem sem prestar satisfação. Lázaro já está amontoado dentro de um ônibus. Enquanto que para proteger-se deveria cerrar sua expressão, um sentimento de bem-estar aflora de dentro, trazendo um sorriso proibido: pela primeira vez pensava sobre seus dias infinitos. O que ele aspiraria? Até quando seria o limite de repetir à exaustão um cotidiano que não lhe cabia? Olhou para a janela do coletivo através do bigode do passageiro e avistou a entrada da empresa passar com a mesma rapidez de seus pensamentos. Deixou o fluxo seguir na esperança de que o ponto final lhe trouxesse a razão inexistente do finalmente. Dentro dele não havia razão, nem objetivo. Apenas pensamentos desconexos. Invariavelmente opta pela atitude que transgrediria seus costumes: transcorreria este dia somente para a sua preservação.

O primeiro sinal da consciência toca em seu celular. Era o alarme lhe avisando do atraso. Por um instante questiona se não deveria esquecer tudo e seguir para a empresa, mesmo chegando atrasado. Logo se lembra que é seu feriado e no centro de São Paulo resolve procurar a si mesmo, caminhando aleatoriamente na expectativa de que a transição dos passos dissolva a avalanche de pensamentos. Em meio a uma praça, observa uma pessoa grafitando o muro da prefeitura. A arte dá vida ao ambiente perverso, trazendo a sensação de completude, desembaraçando a convicção do estranhamento cotidiano. Enquanto Lázaro suspende seu caminhar, sua mente divaga entre a reprodução e a criação. Por qual razão ele estaria reproduzindo seu cotidiano? Justo ele, que sempre foi no movimento contrário, criando soluções adversas, agora reproduzia sem ao menos questionar. O que seria dele sem a reprodução? O artista termina a obra, não era uma obra criativa. Simplesmente mais uma arte publicitária, grafitada sob a insígnia: “Com seu suor, trabalho e compromisso, construímos uma cidade melhor”. O que significava aquilo? Até a liberdade artística estava corrompida pelas glândulas sudoríparas do trabalho. A necessidade de suar é latente, porém, quanto vale um suor reprodutivo nesta construção inexistente?

Não queria ser tachado de vagabundo, tampouco se acomodar numa situação que não lhe cabia. Em meio aos homens de terno na Praça do Patriarca, desvia-se da moça que transpira a greve do Banco Único desativado. O samba calado na Rua Direita ecoa entre as executivas socialmente pintadas. Na Praça da Sé, mediante um grito de ó-ti-ca-ó-ti-ca-ó-ti-ca e um falso atestado médico, recebe um panfleto oferecendo mais uma oportunidade: “Penses bem o que tu fazes da vida, pra depois não ter que chorar o leite derramado”. Era o trabalho novamente o procurando. Era o suor discretamente o controlando. Quando sai na tangente pelo Pátio do Colégio, trombando com o fêmur conservado do Padre Anchieta, sente-se como um violonista incapaz de tocar sem a regência do maestro. Depara-se com dois edifícios gigantescos na Líbero Badaró simbolizando duas cordas de aço acopladas em suas costas, titereando-o com a rede do Poder Empresarial e Público. Embrenha-se na vastidão do Vale do Anhangabaú, para se esconder nas sombras do Largo Paissandu. Um imenso outdoor abrange seu campo de visão: “Mantenha sempre a auto-estima independente dos aplausos, pois as estrelas brilham na escuridão.” Não se sentia uma estrela, nem ouvia os aplausos, pois definitivamente era um fantoche em um teatro de sombras.

Sobre PSCICÓTICO

Pscicótico é um pseudônimo, ou apenas um anônimo, ou simplesmente um pseudo. Por que, então, utilizar o anonimato? Nas palavras de outro anônimo: "Por saudades do tempo em que eu era absolutamente desconhecido e, portanto, aquilo que dizia tinha alguma possibilidade de ser entendido. O contato imediato com o eventual leitor não sofria interferências. Os efeitos do livro refletiam-se em lugares imprevistos e desenhavam formas a que nunca havia pensado. O nome constitui uma facilitação." Por que Pscicótico? Na análise mais simples da pscicanálise, o psicótico é aquele que perde o contato com a realidade. Não estou aqui pra lhes falar verdades, muito menos expor os fatos, a mídia jornalística pode muito bem se encarregar de enganar-te. Estou pra transcender, para metamorfosear minha consciência, transparecer toda a minha demência de uma mente ezquizofrênica e caótica, onde em cada etapa assume uma diferente personalidade. Somos muitos, milhares e diversos. Somos alegres, deprimidos e perversos. Somos a realidade e o seu verso.
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