RESSURREIÇÃO DO ESCRITOR – Parte 5 de 5

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A claridade da escuridão cega. Os raios solares invadem o ambiente, aquecendo minha cama, o meu corpo. O Sol parece brilhar intensamente. Eu sou o gosto amargo do despertar, a mente inconsciente ao acordar; a dor de cabeça da desidratação, o enjôo matinal em ebulição; os olhos que se recusam a abrir e a sede de voltar a dormir. Eu sou a ressaca do autor e o despertar embriagado de Lázaro.

Caminho despido em direção ao espelho com a amarga ilusão de que a imagem me dirá quem eu sou. Ela apenas mostra o que sou: um ser desfigurado. Reconheço todas minhas partes divididas, desejo ser todas ao mesmo tempo, mas são incompatíveis entre si. Lázaro não consegue suar através dos olhos sedutores de Casanova. A filosofia de Jonny não concilia com o sexo selvagem de Maria. As pernas estremecidas de Carla não sustentam a lábia cerrada de Pedro. A timidez de Wesley não comporta o sarcasmo de Piro.

Toda manhã sofro um embate interno, discutindo com as personas o mais apto a conviver neste despedaço mundial. Ao avesso da esquizofrenia social, padronizo o gosto amargo da globalização atado ao nó da mesmice. Transbordo nas mais variadas parte de mim, sobrevivendo a esta seleção natural social. Armo-me com a multiplicidade para combater o modelo padrão.

 Tenho um pouco de tudo, resgato um pouco de cada. Na crucificação encarnada de Henry Miller metamorfoseio através de Kafka o incesto de Anais. A adaptação de Kauffmann desperta as mulheres de Bukowski paro o ódio de Kassovitz. Eu sou ninguém e todos ao mesmo tempo. Um reflexo do inconsciente, discutindo aos berros internamente, para manter a sanidade aparente. Faço de minhas mãos uma caneta tinteiro de sangue para silenciar a discórdia pessoal. Escrevo no espelho: Quem eu serei hoje? Quebro-o desfalecendo meus cacos pelo chão. Eu sou a recusa fragmentada reclusa em um solo quebradiço.

São Paulo, 27 de Junho de 2011

Piero Pucci Falgetano

(Pscicótico)

Sobre PSCICÓTICO

Pscicótico é um pseudônimo, ou apenas um anônimo, ou simplesmente um pseudo. Por que, então, utilizar o anonimato? Nas palavras de outro anônimo: "Por saudades do tempo em que eu era absolutamente desconhecido e, portanto, aquilo que dizia tinha alguma possibilidade de ser entendido. O contato imediato com o eventual leitor não sofria interferências. Os efeitos do livro refletiam-se em lugares imprevistos e desenhavam formas a que nunca havia pensado. O nome constitui uma facilitação." Por que Pscicótico? Na análise mais simples da pscicanálise, o psicótico é aquele que perde o contato com a realidade. Não estou aqui pra lhes falar verdades, muito menos expor os fatos, a mídia jornalística pode muito bem se encarregar de enganar-te. Estou pra transcender, para metamorfosear minha consciência, transparecer toda a minha demência de uma mente ezquizofrênica e caótica, onde em cada etapa assume uma diferente personalidade. Somos muitos, milhares e diversos. Somos alegres, deprimidos e perversos. Somos a realidade e o seu verso.
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2 respostas para RESSURREIÇÃO DO ESCRITOR – Parte 5 de 5

  1. O palhaço disse:

    Fenomenal! Realmente muito bom, Psicótico. Os capítulos do meio estão excelentes. Muito envolvente. Espero ver textos cada vez melhores!

  2. PSCICÓTICO disse:

    Valeu! To com uma idéia na cabeça, vou seguir mandando por aqui…. Mas agora, vou ficar de na retaguarda por duas semanas, comecei um intensivo de roteiro paulera…. vamo ver no que dá!

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