O ASSASSINATO DO AUTOR – Parte 4 de 5

O que poderia fazer depois desta iluminação? Se ele era um personagem, o livro ainda não estava escrito. Quem era o escritor?  Quais eram suas intenções? Abre a gaveta sem pretensão. Era impossível ser um escritor engavetado. Vai até o banheiro ligar o chuveiro e senta na privada observando o respingar. O escritor não escorria por este ralo. Atira-se ainda vestido, deixando seu corpo deslizar até o chão. Este autor não poderia ser superficial. Era esperto o suficiente para criar um personagem que pensava ser gente. Ele estava acima de qualquer coeficiente. Suplica aos céus procurando respostas. Era apenas a umidade escorrendo de um teto branco. Levanta-se atordoado, respingando ao chão e sai do apartamento com a mesma dedicação. Se ele estivesse acima, estaria em outro apartamento. Toca no 504 e atende a Dona Clotilde como esperado. Atingido por um surto psicótico, invade o apartamento procurando seu algoz. Mas ali não havia ninguém. Apenas seu rastro molhado misturado com o suor desperdiçado. Deveria estar além do edifício. Sobe a escadaria com volúpia, arrebentando a trava da cobertura. Acima da sua cabeça apenas um céu estrelado e uma lua nova ausente. Permanece em silencio na esperança de ouvir alguma narração. Não havia nada além do ruído da cidade e o conflito de seus pensamentos. No silencio ruidoso da noite, só consegue ouvir sua voz de dentro. Ele estivera ali o tempo todo, dentro dele.

Era nele que o escritor vivia, era por ele que o escritor fluía. Tentava abdicar de sua função de personagem e o escritor sempre encontrava meios de mantê-lo neste enredo. Desejava o livre arbítrio de fato e não apenas a sensação de ser livre dentro dos limites. Poderia fazer tudo o que quisesse, contanto que seguisse os mandamentos. Mandamento primeiro: Deveria suar sem razão. Não poderia mais cumprir tal tarefa, era injusto que o destino o obrigasse a carregar a cruz do messias. Mas como poderia tornar-se ateu? De que maneira Nietzsche matou seu Deus? Queria ter tido tempo para ter lido mais. Quantos livros não sucumbiram na correria? “Além do Bem e do Mal“, “O Anticristo”, “Assim falou Zaratrusta”… Se os tivesse lido, agora teria a certeza do que faria. Não era este o movimento, não foi assim que Nietzsche matou o seu Deus. Se o escritor está dentro dele, a leitura só traria mais conhecimento, fortalecendo a criação. A criação! O que seria de um escritor sem ela? Quem ele seria sem o alfabeto? Era isso! Encontrara a solução para deixar de ser um projeto.

Permanece a noite acordado olhando as estrelas. Quantas sucumbiram por remorso? Aonde já se viu brilhar na escuridão sem um propósito? Quais delas prevalecerão aos primeiros raios de luz? A alvorada amanhece seus planos e o comércio desperta na cidade: é chegada a hora de colocar em prática a operação Dalva. Segue com passos despreocupados até a Banca de Jornal. Já não há necessidade de se fingir na correria. Pede ao atendente a “Folha do Estado” e o “São Paulão”, regressando para a reclusão de seu apartamento. Prepara um café, acende um cigarro e começa uma leitura minuciosa. Indigna-se com o caderno de Política e segue lendo o que acontece no Mundo: “O novo líder da rede El Caída, Arman de Zawbi, terá que enfrentar ‘muitos desafios’ para impor sua autoridade à organização porque não tem o carisma de Ostama Bin Gaten, afirmou nesta quinta-feira o secretário americano da Defesa, Roberto Portão”. “O presidente da Bolívia, Ivo Moral, atribuiu os problemas de insegurança e criminalidade na Bolívia ao consumismo, ao álcool, aos filmes de ação e às novelas. O discurso foi feito em um encontro nacional de segurança pública em Santa Cruz. Moral discordou de quem atribui as causas da violência somente à pobreza. ‘A riqueza exagerada também traz insegurança’”.

Atolado de questões mundanas, vira para o caderno da Rotina: “Dois dias depois de abandonar as duas filhas recém-nascidas na Santa Casa de Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), a mãe das gêmeas se disse arrependida e quer as crianças de volta”. “Um motociclista foi morto a tiros na noite de ontem (15) após se envolver em uma briga de trânsito na marginal Pinheiros, próximo à estação Berrini, em São Paulo. De acordo com a Secretaria da Segurança Pública, a Polícia Militar foi acionada por volta das 20h para uma ocorrência de disparo de arma de fogo na pista expressa da marginal, sentido Castello Branco. Ao chegar ao local, encontraram o pintor Aurélio Marcos Parreira, 36, caído no chão, ao lado de sua moto –uma Honda Titan vermelha. Ele tinha ferimentos no peito e nas costas. Os policiais ainda tentaram socorrer o pintor, mas ele já estava morto”.

Às 14 horas Lázaro encerra suas atividades jornalísticas para se encarregar do almoço. Após quinze minutos sai de seu apartamento e segue para a conveniência localizada na esquina da Rua Perdiz com a Rua Senhor Pardal. Ali efetua a compra de um Green Label e uma vodka Absolut, pagando em espécie a quantia de 500 reais, deixando o troco com a atendente. Por volta das 14:30, retorna ao edifício, trocando duas palavras com o zelador, sem demonstrar qualquer atitude suspeita. Dez minutos depois o ocorrido, tranca-se em seu apartamento jogando a chave pela janela. Na cozinha, arma-se com dois copos contendo três pedras de gelo cada e retorna para a sala de televisão iniciando sua alimentação. Durante 30 minutos, serve-se de metade da garrafa de Whisky, alternando com doses homeopáticas de vodka. Nos outros 30 minutos inverte o processo, embalando até esvaziar as duas garrafas. O excesso de álcool ingerido no estomago causa a perda momentânea de sua coordenação motora, quebrando copos e garrafas vazias no chão, enquanto escorrega em direção ao toalete. Permance por horas sentado… A claridade dos ladrilhos amarelos reflete… A louça gelada do bidê estremece… O desaguar do chuveiro inunda… O espelho reflete… O teto padece… O levantar acontece… A televisão é ligada… Emburrece…

“Oquei!, oquei! Bunda Perene decidiu colocar uma pedra em seu passado. Quando ainda estava no é o stum, foi humilhada por Cumpadre Boston que, como Bunda revelou na época, chegou até a agredi-la. Já a Dé Brazil, apelou para macumba, para afastar a loira da sua vida.”

No estado… vegeta… assimi… cano… zap…

 “’A nossa equipe está aqui na Rua Augusta, no centro de São Paulo, onde o João Ferrado, o nosso auxiliar, me disse que ta acontecendo alguma coisa ali na frente. Duas pessoas discutem no meio da rua! A moça se aproxima. Ele se distancia. Mas a agressão começa! Ela parte pra cima dele! Ih! Olha só, Antena, ele caiu! Vem cá Envelhecido Carvalho, nosso câmera, corre, corre, a situação é grave! Nossa! A briga continua aqui na calçada. Parece luta livre, viu! O pessoal ta dizendo que a moça ali, na verdade, é um travesti. Nossa! Um tapa na cara! Agora conseguiram se separar. Meu Deus. Bom, agora sim! Chega um Guarda Civil Metropolitano e faz a abordagem dos dois. Que confusão, hein!’. ‘Olha! Eu vou deixar bem claro, aqui, que eu não tenho nada contra os nossos amigos travestis. Nossos amigos travestis coisa nenhuma! Não tenho nada contra travesti! Nenhuma coisa. Eu tenho contra o cidadão Umberto, o Jhon Umberto, que é violento. Bateu no primeiro cara, partiu pra agressão, a imagem é clara. Depois partiu pro nosso cinegrafista’”.

Ami… Traves… olhos… so… no…

“’UUUUUUUU.’ ‘Agora eu vou falar boa noite, pros nossos convidados. Olha só quem ta aqui, a panquet, tudo bem, panquet?’ ‘Oi, oi pessoal’. (aplausos). ‘Ô Mariana, era você que tava pegando não sei quem, que não sei o que, que veio aqui? Era ela?’ ‘Não.’ ‘Não era? Você ta pegando quem?’ ‘Não, era a Mani.’ ‘Você ta pegando alguém!’ ‘Não. Eu pego o meu namorado, só.’ ‘Quem é o seu namorado?’ ‘Não. Não é do meio.’ ‘Tudo bem, não tem problema. Qual é o nome dele?’ ‘Ele é professor de educação física.’ ‘Como é o nome dele?’ ‘nhannnnnn!’ ‘Calma! Como é o nome dele?’ ‘Não conto.’ ‘Porquê que não conta?’ ‘Não. Não gosto de falar dele.’ ‘Por quê?’ ‘Ah, não sei. Porque depois o pessoal começa a inventar…’”

Pegando… p… e… gan… g… a… n… do… d… o… a…b…c… z… … .. .____________________

Sobre PSCICÓTICO

Pscicótico é um pseudônimo, ou apenas um anônimo, ou simplesmente um pseudo. Por que, então, utilizar o anonimato? Nas palavras de outro anônimo: "Por saudades do tempo em que eu era absolutamente desconhecido e, portanto, aquilo que dizia tinha alguma possibilidade de ser entendido. O contato imediato com o eventual leitor não sofria interferências. Os efeitos do livro refletiam-se em lugares imprevistos e desenhavam formas a que nunca havia pensado. O nome constitui uma facilitação." Por que Pscicótico? Na análise mais simples da pscicanálise, o psicótico é aquele que perde o contato com a realidade. Não estou aqui pra lhes falar verdades, muito menos expor os fatos, a mídia jornalística pode muito bem se encarregar de enganar-te. Estou pra transcender, para metamorfosear minha consciência, transparecer toda a minha demência de uma mente ezquizofrênica e caótica, onde em cada etapa assume uma diferente personalidade. Somos muitos, milhares e diversos. Somos alegres, deprimidos e perversos. Somos a realidade e o seu verso.
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